INSS QUER USAR PERITO
PARA BARRAR
BENEFÍCIO NA JUSTIÇA
Aposentadoria por invalidez e auxílio-doença concedidos por
juízes estão na mira do governo.
Depois de anunciar a
revisão de aposentadorias por invalidez e auxílio-doença concedidos há mais de
dois anos, o governo vai tentar dificultar a concessão judicial dos benefícios
por incapacidade. O plano, estudado pelo governo por sugestão da Associação
Nacional dos Médicos Peritos da Previdência Social e de especialistas, prevê
deslocar médicos do INSS para acompanhar as perícias realizadas pela Justiça.
A assistência técnica
médica para perícias judiciais já é prevista em lei, mas foi deixada de lado
durante a gestão da presidente afastada. Segundo o presidente da Associação dos
Médicos Peritos, a Previdência perdeu muitos processos porque os médicos não
compareciam nas audiências. O deslocamento para atuação em perícias judiciais
de 150 dos 1.500 peritos do INSS que estão em atividades administrativas ou
cedidos a outros órgãos seria suficiente para o governo começar a perder menos
ações. Ao todo, o instituto conta com cerca de 4.500 peritos.
Segundo um dos
participantes da discussão sobre a reforma da Previdência, o governo está
empenhado em acabar com a “sangria” de gastos públicos causados por decisões
judiciais. Se seguir em frente com o plano, o INSS conseguirá barrar grande
parte das concessões de auxílios-doença e aposentadorias por invalidez, alerta
o presidente do Ieprev (Instituto de Estudos Previdenciários). Atualmente, a
perícia do INSS comparece em menos de 1% das ações.
Os segurados também
podem levar um médico assistente, mas o serviço é particular e o custo pode
chegar a R$ 2 mil. O perito acompanha a audiência e faz o seu próprio
relatório. Isso ajuda o juiz a tomar sua decisão, por isso é importante.
Em resposta, o INSS
confirmou que a reativação da assistência técnica médica está em estudo, mas
não garantiu que o trabalho será realizado.
Vai ficar mais difícil
O trabalhador poderá
ter de se preparar melhor para pedir um benefício por incapacidade na Justiça.
O INSS estuda mandar médicos assistentes para perícias das varas
previdenciárias e Juizados. A intenção do órgão é que seus peritos façam laudos
para contestar os exames dos segurados. A atuação dos peritos também poderá ser
direcionada para as Juntas de Recursos da Previdência.
Briga pelo benefício
1) Posto do INSS
Conseguir o benefício
no posto do INSS não é fácil. Segurados reclamam que a perícia do órgão é muito
rigorosa. Alguns dizem que a avaliação é rápida e superficial.
2) Junta de Recursos
Antes de partir para a
Justiça, o segurado pode recorrer à Junta de Recursos da Previdência.
3) Justiça
Quando o segurado não
consegue o benefício por via administrativa, ele pode ir à Justiça. Há dois
caminhos para exigir o auxílio ou a aposentadoria pela via judicial:
·
Juizado
O Juizado Especial
Federal aceita ações com atrasados calculados em até 60 salários mínimos (R$
52.800). O segurado não é obrigado a contratar um advogado para iniciar a ação
no Juizado. Mas se houver recurso do INSS, ele terá 10 dias para nomear um
defensor.
·
Vara Previdenciária
Recebe ações com
atrasados calculados acima de 60 salários mínimos. A nomeação de um advogado é
obrigatória.
Perícia Judicial
A perícia judicial é
determinada pelo juiz que vai analisar o pedido do trabalhador. No Juizado, o
juiz costuma indicar a perícia antes mesmo de se aprofundar no caso. Na Vara
Previdenciária, a perícia pode demorar mais tempo para ser solicitada.
Hoje, o INSS
praticamente não manda seus médicos às perícias judiciais. Só o perito da
Justiça e o segurado costuma comparecer nesta etapa da ação. Sem acompanhar a
perícia, o INSS não consegue contestar a avaliação do perito da Justiça. A
falta de provas contra o segurado costuma pesar na decisão do juiz, que concede
o benefício. O INSS quer mudar isso e vai mandar peritos para as audiências.
O que fazer?
Conseguir um relatório
médico detalhado sobre a incapacidade é o primeiro passo para brigar pelo benefício.
Isso pode ser resolvido em uma boa conversa com o médico do SUS ou particular
que atesta a incapacidade.
O que levar à perícia:
·
Relatório do médico
É o documento em que o
médico descreve a doença. Precisa informar se a doença é temporária ou permanente.
Deve apresentar a CID (Classificação Internacional de Doenças). É desejável que
descreva efeitos colaterais da medicação.
·
Exames complementares
Radiografias,
ressonâncias e outros. Deve conter o laudo técnico do laboratório.
·
Receitas médicas
Demonstram que o
segurado está em tratamento. Não são obrigatórias.
·
Médico assistente
O segurado também pode
levar um médico assistente à perícia judicial. Se fizer isso, as chances de
conseguir o benefício aumentam em muito. Mas esse serviço é particular e pode
custar em torno de R$ 2 mil.
·
Laudo particular
Uma alternativa é
contratar um especialista para produzir um laudo médico e levá-lo à perícia
judicial. O laudo sai mais barato (cerca de um salário mínimo), mas é menos
eficiente do que levar um médico assistente.
Pente-fino na
Previdência
O governo publicou
medida provisória que permite um pente-fino em cerca de 3 milhões de
aposentadorias por invalidez e 840 mil auxílios-doença. Pelos cálculos, 30% dos
auxílios deverão ser cortados, o mesmo ocorrerá com 5% das aposentadorias. A
intenção da medida é economizar R$ 7 bilhões com o cancelamento de auxílios e
aposentadorias.
Quem tem mais de 60
anos e recebe um benefício por invalidez não é obrigado a passar pela perícia,
garante uma lei publicada em 2014. Mas, em casos de suspeita de fraude, esses
segurados também poderão ser chamados para o exame.
Segundo a Secretaria da
Previdência, não há intenção de cortar benefícios de segurados que comprovarem
a incapacidade. O órgão reforçou que somente os segurados que forem convocados
devem ir às agências. Para diminuir o risco de engrossar a lista de cortes, é
preciso estar prevenido. “Marquem consultas com seus médicos, peçam o relatório
e refaçam os exames”, orienta o vice-presidente do Instituto Brasileiro de
Direito Previdenciário.
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